segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Devir

Daqui: http://www.mexican-fireworks.com/post/15042912104


Por Allan Fonseca

Mais que pensar naquilo tudo que vamos fazer em 2012, talvez seja a hora e o caso de pensar no que fizemos em 2011.

Lembro, por exemplo, que a primeira promessa que jurei, quando ainda lucilavam as bolhas de champagne em minha taça, foi a de enfrentar os medos. Quais? Todos eles. O que me incomodasse, o que me amarrasse os passos, o que me fizesse sombra ao sorriso inadvertido. Nem que, para tanto, tivesse de abrir mão da minha tranquilidade. Nem que, ao final do embate, a única recompensa a restar fosse a consoladora sensação de que não fiquei parado, esperando a vida me levar.

Lembro que prometi também não mais protelar. O quê? Os mínimos acontecimentos. De uma consulta no médico a um livro interessante. De um telefonema a um par de calças novas. De uma bicicleta no quintal a um parente no interior. De uma viagem sonhada à arrumação nos papéis da gaveta. De um abraço sem causa aos gravetos da paisagem de dentro.

Lembro ainda que me comprometi a algo muito simples, ou que parecia muito simples no frenesi dos fogos de artifício: dar valor. A quê? A quem? Ao que tem valor intrínseco: a barriga laranja dos sabiás que vem cantar no meu quintal; a virada olímpica na piscina; a chuva que limpa o ar e realça o brilho do sol; o carrinho de madeira que meu avô trouxe de São Pedro; o lento desfile do rio e seu encontro com o oceano; o prato na mesa, o teto na casa, a colcha, a fronha, o lençol; o pai, a mãe, o irmão; o sermão da montanha; os lírios do campo de Deus.

Lembro que afiancei procurar o lado bom do que sobreviesse. Onde? Nos recônditos da fé, se recurso mais concreto não me houvesse, mas sempre, impreterivelmente. Interpretar cada fato como ensejo para crescer, para me aprimorar. Não me esconder, não esmorecer, não fraquejar. Não ulcerar ninguém nos espinhos de meus naufrágios. Nem que o pior me acontecesse. Nem que um amigo me traísse no afã de sôfrega ambição. Nem que os favos de doce recordação estilassem gotas de fel. Nem que eu fosse tragado pelo gargalo da solidão. Nem que se esfarelasse o oásis dos tártaros. Nem que passasse a viger o silêncio babélico da fonte seca.

Lembro como se fora ontem, mês passado, mil novecentos e oitenta e seis, no tempo dos magos reis... Lembro e vislumbro que amanhã prometerei mais uma vez o que não posso cumprir. E, no devir de mais um ano, ser humano, sem resposta, hei de inquirir: o que se fez?

30/12/2011


Allan é nosso primeiro colaborador no blog. Um amigo muito querido, escritor e  tem uma sensibilidade e facilidade únicas de se expressar através das palavras. Em 2011 lançou o livro A paisagem vem de dentro, da editora Tecci.

Seu blog: allanbff.blogspot.com


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cinema em Casa

Por Renata Daibes

Herdei da minha família um amor enorme pelo cinema, principalmente pelos grandes clássicos.

Desde criança assistia a muitos filmes, alguns nem tanto infantis, alguns tinham cenas cortadas, como Hair, por exemplo, que eu via apenas os momentos mais românticos, dançados e a famosa cena de Berger subindo na mesa de jantar.

Fui crecescendo e meu amor só aumentando, e me vi viciada no clássicos americanos. Billy Wilder, Hitchcock, Robert Wise, Geroge Stevens, dentre outros. Kurosawa estava sempre por perto, Bergman também, mas confesso que só fui me interessar mesmo por eles já adulta. Gostava mais das histórias lineares e dos astros hollywoodianos.

Marilyn, Montgomery, Liz Taylor, Jack Lemmon, Audrey, Gene Kelly, Fred Astaire eram de casa. Estavam quase todos os dias no vídeo cassete, me emocionando.

De uns tempos pra cá, em Belém, minha família promove uma noite de cinema, planejada e organizada por meu tio Tadeu. Ele define um tema e cada um leva uma cena baseada no tema já previamente divulgado.
Dessa última vez falamos sobre comida. 

Abaixo seguem algumas das cenas escolhidas pelos participantes.





O único porém é que minha família tem descendência árabe. Não, isso não é um problema, mas gera alguns contratempos. Por exemplo, as pessoas não ouvirem a cena em questão, os comentários rolam no meio do filme e posso afirmar que não são cochichos. A comunicação na sala é bem do jeito árabe/paraense de ser: quase gritando.

Rolam aplausos, risadas, comilança no meio e às vezes até vaia quando alguém não concorda com o filme. Ninguém fica calado. Mas o mais gostoso é o interesse de todos, desde minhas sobrinhas de 5 e 9 anos, até minha avó, todos ali empolgados e cobrando que esse evento faça parte do calendário anual de encontros da família.

O cinema é uma das alegrias de minha vida e será eternamente assim. Não sei viver sem. Afinal, já tá no sangue.


Obs. A minha cena foi a de Em Busca do Ouro. Não deu pra colocar todas as cenas, porque foram muitas, mas ainda tiveram A festa de Babete, Ratatouille, Harry Potter, A Noviça Rebelde, Hook - A Volta do Capitão Gancho, Jesus de Nazaré, entre outros. Fora A Festa de Babete, nenhum dos filmes fala exatamente sobre alimentação. O legal foi mostrar que cada filme dentro de sua história acaba tendo uma cena com comida e cada diretor tem uma forma completamente distinta de apresentar. Romântica, informal, festejada ou na miséria cenas de refeição são presentes nas obras cinematográficas.