quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Pendure no pescoço e rode por aí.


Por Vanessa Hassegawa

Em tempos que confundem liberdade de imprensa com difamação e “bullyng” é utilizado como substituto da palavra preconceito, ainda acredito no equilíbrio. E peço desculpas à minha timidez para dizer que estou “me achando” hoje.

Sem misturar conceitos vanguardistas e novas gírias, o Carne Moída foi posto na rua. Um investimento de poucos reais e excessivamente criativo colocou o centro de São Paulo e algumas pessoas queridas entorno de uma cerveja , risos e prazeres. 

Nessa simples intenção de por um precioso minuto em qualquer câmera levou à cena 32 minutos, 32 obras de arte. Todos eles compactuaram com a coragem de jovens - de 20 a 30 e poucos- que acreditam na arte de forma acessível e carregada de organicidade.

A proposta do Carne Moída de reunir criadores que tivessem produzido vídeos de até “1 minuto” não tem nenhum ineditismo, mas não estamos falando de pioneirismo e sim, da acentuação do ego em sua melhor forma. Uma ode à carne de segunda, um louvor a obras de quem acredita que a sua arte está dentro. Todos podem literalmente pendurar sua “melancia no pescoço” e aparecer por aí. 

Amigos e meu amor* (já que essa crônica é uma verdadeira rasgação de seda às pessoas queridas e quase um alter-ego, afinal um gostinho de minha pesquisa sobre as "encantadas" da Amazônia paraense também esteve lá) acordei sentido que nós artistas da cena fora do circuitão temos que agir fazer e desfilar.

Comprem ou não nossa arte de bullyng alheio. Porém, saibam que nossa liberdade de expressão não ofende as moças ricas do pop brasileiro e a imprensa. Lanço um decreto: Vamos moer nossa carne de segunda e fazer muitos pratos principais!

Veja isto:




Obs: Encantada é um trecho de meu projeto de videodança sobre mito, lendas e feminilidade das ilhas do Pará. Este vídeo foi gravado na Ilha de Algodoal  e contou com captação, edição e trilha de Ruy Lessa (o “meu amor” mencionado acima).





quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Senta e Espera

Daqui: http://tempo-ao-tempo.tumblr.com/


Por Renata Daibes

A vida nem sempre atende às nossas expectativas momentâneas. Estamos à espera de respostas, de notícias e parece que elas estão demorando uma eternidade pra chegar.
Enquanto isso, vamos vivendo, fazendo as pequenas escolhas do dia-a-dia, seguindo nosso curso, mascarando aquela expectativa imensa que tá quase explodindo dentro da gente.
E como esconder a ansiedade? Respirar fundo e continuar seguindo em frente? Dá vontade de sair correndo de casa, falar tudo pra todo mundo, aquilo que tá engasgado, ou resolver todas as pendências que precisam de um ano pra se resolverem, tudo em um dia só. Mas as coisas não funcionam assim.
Só estou assimilando agora (depois de muito penar) que o tempo é muitas vezes senhor da nossa vida. Nem sempre adianta nos anteciparmos, criamos situações. Esse senhor virá e falará “agora fica sentadinha e espera, não adianta ficar correndo atrás sempre, eu que vou agir e decidir quando é melhor pra você que algumas coisas aconteçam.”
Às vezes planejo, crio, invento. E mesmo assim, me vejo depois esperando uma resposta que demora parece séculos a vir. E quem está por perto fala “lê um livro, vai fazer uma aula, estudar, tira o foco disso que ajuda a passar o tempo”. Desfocar é a palavra.
É o teste da paciência, da compreensão, da calma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dançando em Belém

Por Equipe Las Caboclas

O Las Caboclas abre espaço para divulgar o trabalho e pesquisa de quem nos chama atenção e que nos identificamos com a proposta. Hoje falamos um pouco sobre o trabalho de uma bailarina, paraense como nós e amiga de muitos anos.

Ana Flávia é bailarina, pesquisadora de dança e professora doutora da Escola de Teatro e Dança da UFPA, em Belém. Ela faz parte do grupo “PESQUISA EM IMANÊNCIAS NA CENA,  um coletivo de artistas-pesquisadores ligados à Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará que se propõem a investigar processos criativos em artes cênicas à luz do conceito de imanência (Deleuze e Guattari), bem como articular suas experiências a outros conceitos emergentes na contemporaneidade.” Texto retirado do blog: http://imanencias.wordpress.com onde existem outros textos e vídeos sobre as pesquisas do grupo.

Vale super à pena ver o blog e conhecer melhor o trabalho deles. A Flávia é Coreógrafa e diretora artística da Companhia Moderno de Dança. Essa Companhia é, na minha opinião, uma das melhores do Estado e produz espetáculos que já foram premiados pelo Brasil. E eles acabaram de ganhar o prêmio SECULT 2011 de incentivo à dança, no começo do mês de outubro, com a coreografia "Serpentinas e Poesias". Pensem numa pessoa que faz acontecer a cena de dança em Belém!! Essa é a Flávia e seus pupilos!
Aqui vocês podem ver um vídeodança, protagonizado pela própria Flávia. Muito sensível e delicado.



Espero que curtam a dica!
Abraços!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A nossa Nova York


Maybe we never Forget escrito na placa em homenagem aos bombeiros que morreram  no atentados às torres, em 2001. Foto de Fred Linardi.



Por Renata Daibes

Depois de muito economizar e planejar, estive em março de 2011 em Nova York para estudar e passear, conhecer a cidade que tanto vi em filmes e fotos.
Em época de lembrar os dez anos de 11 de setembro, com a TV e internet pipocando de lembranças e relatos sobre o terrível atentado nas torres gêmeas, minha visão sobre Nova York em relação ao atentado mudou.

A ideia era que aquilo acontecia num lugar ao mesmo tempo perto, mas tão distante, algo inexplicável e inalcansável, como tantas imagens que vemos todos os dias. Situações de tragédia ou alegria que parecem próximas porque chegam com uma rapidez, mas ao mesmo tempo ficam lá longe, em locais que não fazem parte de nossa cotidiano diretamente.

Mas depois de visitar a cidade esse ano pela primeira vez, conversei com pessoas que passaram pela situação no dia do acontecido, pude visitar o local de construção da nova torre e conheci também o memorial pequeno, que dará lugar a um enorme. Vendo tudo de perto é bem diferente.

Parece que a qualquer a momento em que eu andava pela cidade iria encontrar Oskar Schell, personagem do livro Extremamente Alto x Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer, que procura insanamente pistas sobre uma chave que ele acha no quarto do pai, este que desapareceu nos ataques às Torres Gêmeas. Aquele garoto, tão incrível que flutua pela cidade tão sensivelmente, vendo tudo com tanta delicadeza, mesmo com a cidade tão fora de si logo em seguida aos ataques

Nova York pareceu pra mim, acolhedora, sensível e pacífica. Senti uma tranquilidade imensa na cidade, muitas crianças nas ruas, pessoas de todas as classes sociais no metrô e uma mistura gigantesca de cores, raças e credos. E não pensem que fiquei somente na parte turística, por 12 dias tive uma rotina intensa das oito e meia da manhã às cinco da tarde, convivendo com novaiorquinos e moradores da cidade, morando na casa de uma brasileira que vive em NY e meu cotidiano foi de trabalho e correria. Então, pude sentir um pouquinho o que é a rotina daquela cidade.

Independente de ideologia política, de quem tem razão ou não, eu saí com a sensação que aquele lugar, apesar de TUDO, não mereceu sofrer o que sofreu. Falo isso pelas pessoas que moram ali, que trabalhavam nos prédios, pela poesia que grita nas ruas da cidade, por tudo que senti o quanto aquela cidade pulsa artisticamente. Talvez isso de ficar filosofando a vida diariamente me faz acreditar que lugar nenhum do mundo merece receber bombas, atentados, ter assassinatos, roubos, estupros, etc, mas em particular NY me fez acreditar que propaga uma energia contrária até a isso que pensamos que os EUA transmitem. Nem o “american way of life” sobrevive à Nova York. É uma cidade que deveria pertencer “somente” ao planeta e não a um país, tamanha liberdade que se sente ao andar pelas ruas.

Os dias que passei na Big Apple me ajudaram a desmistificar muita coisa que estava na minha cabeça e acreditar mais no que se vive do que aquilo que nos é transmitido pela da mídia.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Público Gay

http://www.imagesbydirk.com/



Por Renata Daibes

De repente ouço: eu não frequento o shopping Frei Caneca porque não gosto do público. Penso, talvez não seja bem o público, talvez seja a música, as lojas, ou a distância que aquele shopping ou cinema ficam de minha casa. Mas o que eu finalmente sou forçada a ouvir é: não gosto do público gay.

O que será público gay? Alguém todo fantasiado, de saia, te aliciando no banheiro? Ou pessoas comuns, que trabalham, pagam suas contas e impostos, que são médicos, engenheiros, garçons, empresários, fotógrafos, advogados, dentre outros? A primeira alternativa não se refere ao público gay, ao meu ver, e sim a algum personagem de programa de humor, onde os gays são sempre personificados como “seres engraçados”, exóticos ou sexuais. Já a segunda se refere aos gays, aos héteros e todos nós, seres humanos, que lutamos para viver nesse mundo que destruímos aos poucos e aos muitos.

Será que tudo isso é o medo do diferente? A chacota, o bullying, aquele colega que vive às custas de maltratar os demais, será que não se esconde dentro de uma capa de medo e timidez de mostrar quem realmente ele é, seja gay ou não? A nossa sociedade criou artimanhas para sustentar o preconceito. Acreditamos que nossos filhos não podem jamais ser gays ou andar com gente “desse tipo”. São más companhias, emanam energia negativa, não são de Deus. Ou então viram bichos de zoológico: venham conhecer meu amigo gay, ele é lindo e incrível e super engraçado!

E ainda existem preconceitos dentro de outros, como fazer comentários do rapaz que trabalha no escritório e que nunca apareceu com namorada. Mas e quando se trata do dono da empresa, que também é gay, mas paga o seu salário, é simpático com você e para todos é um bom chefe?

Não venho por meio deste texto dizer que os gays estão acima do bem e do mal, mas sim dizer que pessoas somos iguais: com sentimentos, defeitos, qualidades, questionamentos. Então, porque que eu posso me casar, ter filhos, ter um emprego, sair de mãos dadas na rua, frequentar um shopping e alguém que goste de pessoas do mesmo sexo não pode?

O sexo é sempre assunto, os amigos e família querem saber com quem estamos ou não transando. Mas um casal hétero, com o casamento fadado ao fracasso, sem sexo há tempos e mantendo aparências, não é visto como anormal para a sociedade? Observamos tanto o comportamento do outro e não olhamos nossa própria vida. Hipocrisia constante.

Quem a gente pensa que é para diminuir alguém ou para ser melhor que o outro por causa de nosso perfil sexual? Também, é melhor ir com calma na luta porque muitas vezes nós, que tanto fugimos do preconceito, nos tornamos preconceituosos às avessas ou chatos de plantão.

Acredito em um debate ainda muito necessário, mas que o final seja uma igualdade que não precise de discussão. Que vejamos beijos gays nas novelas e não nos assustemos e nem necessariamente digamos que lindo!! Que casamento gay seja apenas a união de duas pessoas que se amam e não precisem ainda ficar levantando bandeira para se afirmar. Que possamos fazer uma festa com gays e héteros e não nos preocupemos se haverá piadinhas ou desconfortos. E cada um se preocupe em cuidar da sua vida se preocupando em dar espaço ao outro.

E fazendo um desabafo mais do que pessoal, tenho pessoas que amo demais que são gays e outras tantas héteros, então me poupem de comentários desse tipo ao meu redor. Isso definitivamente não cria diferença entre elas para mim. Grata!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Extensores de bochecha.





Por Vanessa Hassegawa



A primeira vez que vi o bizarro na arte foi aos 16 anos quando assisti aos espetáculos Carne dos Vencidos no Verbo dos Anjos e Violência, ambos da Cia Cena 11 de Florianópolis. Nesta época, a escola de balé em que eu estudava em Santa Catarina ganhou ingressos e algumas mães de minhas amigas não as deixaram ir por conta das fotos do flyer, que sugeria sangue e pouco figurino em cena (imagine isso às prodigas bailarinas clássicas, há!). 


O espetáculo aconteceu numa quadra de esportes de Joinville e, em alguns trechos, dentro de uma bolha transparente que “sufocava” quem assistia à técnica de quedas e suspensão (não tenho cacife para defini-la melhor) e se apresentavam sob figurinos tecnológicos, peitos enormes, bocas esticadas cheias de botox (usavam extensores de bochecha), metal e pernas de pau. Apresentava num dança-teatro ou uma dança contemporânea feita por corpos disformes aos padrões 4X4 do clássico.


Não tão distante desse trabalho de dança, mas sob um climinha badalado-cosmopolita, na semana passada conheci a exposição que minhas amigas divulgaram: USAnatomy, de Steven Klein, que está rolando no Mube (Museu Brasileiro da Escultura). Apesar de ser o dia frequentado por pessoas que só vemos em revistas, o trabalho de Klein não ficou atrás das celebridades soltas pela galeria. Ao contrário: transcendeu.


Klein mixa o universo de beleza de humanos icônicos à sua/nossa alma de valores distorcidos... Assim como em dança, não sei definir e dissecar seu gênero artístico com precisão, só pude sentir as mesmas impressões dos bailados de Cena 11 e cada fragmento de humanidade. Carne e valores estampados sob lentes incríveis, sejam as das nostálgicas Polaróides aos painéis digitais extremamente bem produzidos.


As mais espetaculares são as cenas de happy family de Angelina Jolie e Brad Pitt seguida da cena de brincadeira com o revolver e a do super Edward Norton que não apenas alegrou as crianças com seu Hulk, mas nos leva a uma viagem minuciosa em representar um cara sozinho num quarto vazio com seu prato de comida inacabado... Muitas cenas reais com humanos que antes pareciam pertencer a outra galáxia.


Entre os “bons drink” e muitas risadas com as amigas durante a exposição, senti essas impressões malucas que me fizeram pensar nas obras de artistas que não sei exatamente se quiseram dizer isso, mas que me impressionam por causar um ruído muito semelhante quanto suas plasticidades: um por meio de passos em um palco e o outro pendurado em paredes.


Obs: A Mostra está inserida no projeto Iguatemi Photo Series – que sempre traz artistas maravilhosos em exposições incríveis! – é promovido em parceria com a Oi.


Dê uma passadinha por lá:
MuBE - Museu Brasileiro da Escultura
Av. Europa, 218 - São Paulo - Brasil
Terça a domingo das 10h às 19h
11 2594-2601 - mube@mube.art.br
Vernissage: dia 10 de agosto, a partir das 20h para convidados.
Visitação: de 11 a 28 de agosto
Entrada Franca 
O Museu possui acesso para portadores de necessidades especiais e café/restaurante.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Não sei lidar

Christina's World, 1948
Andrew Wyeth (Americano, 1917-2009)
Obra exposta no acervo do Moma, NY

Por Renata Daibes

Talvez nunca aprenda, nem sei se existe uma maneira de aprender. Mas eu ainda não aprendi a lidar com a morte.

Seja aquela morte que vemos numa notícia, seja de um amigo de um amigo, ou de um parente próximo, aquilo fica martelando dia, meses e, dependendo do caso, anos dentro da minha cabeça.

Fico imaginando os últimos dias, pensando Será que a pessoa sabia que ia morrer? Como foi a última vez que falou com as pessoas que mais amava, como foram os últimos minutos e o que será que ela sentiu no momento exato?

Soube recentemente da morte da minha diarista, que na verdade fazia seis meses que eu não a via. Por motivos financeiros, decidi dar conta de tudo por aqui eu e o noivo desde o começo do ano. Quando recebi a notícia há duas semanas, fiquei muito triste e, de novo, pensativa. 

Pensei nas últimas vezes que ela veio aqui, nas nossas conversas, nas histórias que ela contava da Bahia e sobre o filho de nove anos que ela amava tanto. Lembrei dela pra lá e pra cá aqui em casa, arrumando tudo, limpando. Lembrei do dia a dia, pensei nela pegando ônibus pra ir e vir, nos afazeres diários e, de repente, tudo isso acabou. Eu não encontraria mais com ela, nem ouvirias as histórias, as pessoas que cruzavam com ela na rua ou no elevador não cruzarão mais. E assim as coisas se vão.

Penso também nas diferenças entre uma situação e outra. Lembrei de uma grande amiga que morreu de repente, assim como minha diarista. Lembrei de meu avô que ficou naquele vai e vem entre hospital e casa durante muito tempo. É a mesma dor, mas de formas diferentes. O fato da despedida ou não, a distância física, isso não muda o fato da falta que a pessoa faz em minha vida. Fico pensando, divagando, filosofando mil coisas.

E esse texto acaba assim, sem um final conclusivo, porque para mim a morte ainda é uma coisa inexplicável, apesar de acreditar em algo melhor depois desse inferno que muitas vezes vivemos aqui. Vamos em frente, criando, fazendo planejamentos e tentando viver um dia de cada vez.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Não vi e tenho inveja de quem viu


Por Renata Daibes

Quarta feira da semana passada, dia 27 de julho de 2011, foi um dia muito especial para o futebol brasileiro e para quem aprecia obras de artes também.

Um jogo clássico, como na maioria das quartas e domingos acontece. Flamengo e Santos em campo na Vila Belmiro. Infelizmente não passou na TV aberta em São Paulo. Só assistiu quem teve a oportunidade de comprar o jogo por alguma TV paga. Não quero nem discutir essa escolha de jogos que passam ou não na TV aberta porque esse post não é de protesto e sim de deslumbre.

Fui jantar com alguns familiares, que passavam sua última noite de férias na capital paulistana. Ainda no restaurante, minha mãe me liga, diretamente de Belém, para dizer que está acontecendo um jogo super emocionante entre os dois times. Eu fico com uma agonia no coração por não estar em casa e por não ter comprado os jogos do Flamengo no campeonato. Mas tudo bem, já perdi tantos outros jogos, um a mais um a menos não faria tanta diferença assim.

Quando estávamos indo pra casa trocando de estações no rádio, parei numa narração do jogo. De repente, ouço um grito de gol do locutor, dizendo que acabara de acontecer o 5º gol do Flamengo e o jogo estava praticamente no fim, com o placar de 5X4. Minha mãe ligou novamente. Neste momento, eu já estava subindo o prédio às pressas. Abri a porta de casa, liguei a TV e nada! Estava passando outro jogo, que se não me engano também foi bonito, mas não tão especial quanto aquele que acabava de terminar.

Me restou ver reprises, comentários e ler coisas sobre a partida.

Mas no fim das contas estou feliz, apesar da inveja de quem viu o jogo. Pois vendo tudo o que vi depois, senti uma energia boa, coisa que não sentia desde quando o Flamengo foi campeão em 2009.

Foi até mais profundo do que a sensação da vitória em si. Uma coisa gostosa de sentir, de acreditar no futebol, que ainda existe arte, que se todos os envolvidos, jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcida quisessem, poderíamos viver aqui no nosso país algo muito melhor do que temos hoje. Poderíamos eleger o melhor jogador do mundo sem precisar que eles saíssem daqui. Talvez fazer uma Copa aqui muito mais organizada e com estrutura, sem roubalheiras e corrupção. Poderíamos influenciar nossos jovens que estão começando no esporte a não querer apenas lucrar de clube em clube, mas passar a eles que o que vem antes é o amor à arte do futebol e amor ao clube, aos seus companheiros.

Continuo sonhando com essa realidade que, depois desse jogo, não me parece mais impossível. Ver os jogadores adversários se abraçando, Ronaldinho e Neymar, e mais especial ainda ver Neymar e Luxemburgo (técnico do Flamengo) abraçados, rindo e felizes. Obrigada Neymar, Ronaldinho e todos os jogadores e responsáveis por esse jogo magnífico.

Queria só mais duas coisas impossíveis, ter assistido esse jogo com meu avô, que me fez amar o Flamengo, e uma crônica de Armando Nogueira sobre este jogo, para ler no dia seguinte. Ah sim, isso seria fechar com chave de ouro.


*Reportagem muito boa do Esporte Espetacular sobre o jogo: http://www.youtube.com/watch?v=OrIDYIUzs2A

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Meu primeiro ménage a trois foi assim...



Por Vanessa Hassegawa

Cedo ou tarde eu preciso conhecer pessoas e coisas. Conheci o trabalho de Gerald Thomas este ano, com meus ansiosos vinte e poucos anos, mas não vou refletir muito sobre isso remoendo o porquê de eu ter demorado tanto para encontrar no meio de tanto pêlo e nó do mundo o trabalho de Gerald.

Acabei de assistir sua nova obra, Gargólios, e fiquei extasiada pela quantidade de palavras, sons e texturas sobre o palco.

Tudo positivamente solto, demandas sonoras de palavras e expressões atuais como  iPods, iPads, Apple, Sony, etnias que transformam a cidade grande... tudo largado e arrematado com uma única e profunda certeza: toda a bagunça sintetiza a vida (ao menos para mim).

Não escrevo somente para mostrar a forma que compreendi os símbolos, signos daquele trabalho, até porque para atingir a conceitos e fontes faltam-me mil livros e referências... Posso apenas expor o que senti depois daquela peça (ou a não-peça).

Na cena, interferências do próprio Gerald, que tocava seu baixo sob os acordes de Led Zepelin, a cenografia de escombros, a poeira e um sangue molhado e sombrio que escorria do corpo nu de uma das atrizes, pendurada no centro do palco. Com uma prontidão e tônus incrível, ela ali estática aclamando num silêncio barulhento todos os gritos que ecoam diariamente nessa televisão que não para de balbuciar sangue, morte, estupros, vendas, carne, tudo com pouco tato.

Não me contive e, ao final da peça, comprei o livro com as crônicas que Gerald blogou de 2004 a 2010. Fui com minha grande amiga Sá, super fã do trabalho do cara.  Ficamos numa fila cheia de tietes para conseguir o autografo – e o artista lá sentado, irritadiço e ansioso – para talvez ficar com ele mesmo e entender o efeito daquele dia de sua encenação. Ele pegou nosso livro e dissemos que queríamos a dedicatória para as duas e ele disse:  - ótimo já que são duas em um posso fazer um ménage a trois com vocês sem problemas né?

Rimos envergonhadas e acho que, apesar da inadequação, felizes por ter tido naquele dia uma piadinha de um cara que modificou as impressões sobre meus outros dias. Só sei que voltar ao trabalho no escritório na semana seguinte foi conflituoso. Estive enlouquecida com pensamentos contraditórios sobre o quão abusivo da minha parte por me sentir na cena de Gargólios todos os dias, por reconhecer as personagens da peça no dia a dia. Me percebi nesse núcleo do Sistema, me reconheci também pensando sobre o mundo corporativo e a crítica feita sobre esse universo, sobre o Eugenismo vindo das declarações de colegas de trabalho, sobre a minha identidade perdida ou não perdida ou, sobre a qual mundo quero pertencer? Mas peralá: há outro para mim, há outro para Gerald Thomas? Qual o veredicto justo desse mundo em que precisamos do dinheiro do Sistema para pagar aluguel, comprar coisas e cenouras e TAMBÉM assistirmos a obras como a de Thomas – a consequência é que produzimos pensamentos. Putz, tô pensando, que merda é essa?!

Dentro de minha terrível bagunça interna, cito a própria passagem por quem me fez pensar; no programa de Gargólios: “... ou um ‘caos sobre o caos’. Mas o transformei numa clínica psicanalítica onde os heróis e super demagogos se sentem traídos pelo próprio ego sentidos com tantos ipods, tantos ipads e tantos iphones (aliás escrevo esse release num iPad, ouvindo música pelo iPod. Hummmm, que estranho. Será que virarei um download?)

É, meu caro, e é nessa imperfeição que te considero hoje uma influência que preciso explorar. Correr atrás de suas fontes na psicanálise, a bagunça de Beckett, meu ménage a trois não será sexual, mas espero daqui pra frente procurar cada vez mais entender o lado trois/ em tríade entre mim – o caos do mundo – e a poesia.

domingo, 31 de julho de 2011

Amor, casório, divisão de tarefas e tudo mais...

Foto Priscila Mota - priscilamota.com


Por Renata Daibes


E quando a gente menos espera conhecemos alguém e nos apaixonamos. É ...não é tão fácil nem tão rápido assim, mas vamos ao que interessa.
CASAMENTO. Palavrinha popular essa, hein? A maioria dos casais (em grande parte as mulheres) sonha que isso seja regulamentado perante a lei e, na maioria dos casos, perante amigos e família através de algum tipo de comemoração. E não vejo mal algum nisso.

Tudo começa com o pedido de casamento ou com uma decisão entre ambos de que querem casar. E aí começam preparativos, listas e mais listas (convidados, decoração, músicas, espaços para a festa ser realizada, lugares para a lua de mel etc). Vem um turbilhão de coisas à sua cabeça, e várias pessoas dizendo que TEM QUE TER isso e aquilo. Mas várias coisas não combinam com você. Não quero salto, vestido longo não me deixa dançar, passo longe de valsa. Então vamos organizar um casamento do nosso jeito?

Decidi escrever sobre isso porque estou vivendo esta fase e nunca combinei muito com tradições. Debutante, formatura, dentre outros, nunca fizeram meu tipo. Prefiro gastar com uma viagem. Mas decidimos que faremos uma festa pra comemorar nosso amor com as pessoas mais do que queridas. Pensei então, as músicas, a decoração e meu vestido não serão tradicionais. Ninguém de terno e as madrinhas usam o que quiserem (menos branco ou a cor que eu decidir que será meu vestido, olha a tradição aí geeeeenteee). E ao mesmo tempo me pego pensando: Nossa, quero as fitinhas do bem casado combinando com a flor da mesa dos convidados. Tenho que pesquisar que cabelo vou usar no dia, o que será que fulano vai pensar se eu não servir o que sempre se come? O que vão pensar se eu entrar na cerimônia com rock’n roll ao invés da Marcha Nupcial?

Mas o que leva uma pessoa a se casar? O amor ou a convenção social? Ou os dois? Tem gente que é feliz com os dois, mas tem gente que não consegue fugir disso. Ou usar a tradição a seu favor e não o inverso. Mas o mais importante de tudo é não esquecer o que vem depois: a rotina ao lado de quem você ama.

Moro junto com meu “noivo” há quatro anos e sei bem a dureza que é pagar contas, passar por meses de apertos e continuar sua vidinha feliz e contente do lado de quem você ama. Dividir as tarefas de casa, então, é a pior parte. Como lidar com o estresse do dia a dia deveria ser uma cartilha recebida da assessoria de eventos no dia que você a procura pra começar a escolher coisas do seu casamento. Ficamos horas escolhendo flores, laços e decidindo cores, sem pensar em como vamos conseguir assimilar tal mania ou conseguir dormir com o ronco de alguém até que a morte nos separe, isso partindo do princípio que ele é a pessoa que você quer passar a maior parte da vida, para não gastar toda sua economia e separar em seis meses. Todos podemos voltar atrás, mas então querido(a) vá morar junto antes e faça um teste, não vá jogar suas economias no lixo achando que depois de casar melhora. Porque na festa de casamento (e depois) se gasta e muito.

Não quero desestimular ninguém. Mas a correria de preparação de um casamento é tanta que às vezes esquecemos que o principal é a pessoa que está do nosso lado (mulheres, lembrem-se que, sim, o noivo existe no casamento você não é a única). E que a festa tem que ser uma delícia principalmente para o casal, e que não temos que agradar aquela prima de 20º grau que você não vê desde que tem cinco anos. A festa tem que ter a nossa cara e ser muito feliz. Pra depois ser uma lembrança boa quando você tiver que fazer a faxina da casa na 1ª semana depois da mudança.