segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A nossa Nova York


Maybe we never Forget escrito na placa em homenagem aos bombeiros que morreram  no atentados às torres, em 2001. Foto de Fred Linardi.



Por Renata Daibes

Depois de muito economizar e planejar, estive em março de 2011 em Nova York para estudar e passear, conhecer a cidade que tanto vi em filmes e fotos.
Em época de lembrar os dez anos de 11 de setembro, com a TV e internet pipocando de lembranças e relatos sobre o terrível atentado nas torres gêmeas, minha visão sobre Nova York em relação ao atentado mudou.

A ideia era que aquilo acontecia num lugar ao mesmo tempo perto, mas tão distante, algo inexplicável e inalcansável, como tantas imagens que vemos todos os dias. Situações de tragédia ou alegria que parecem próximas porque chegam com uma rapidez, mas ao mesmo tempo ficam lá longe, em locais que não fazem parte de nossa cotidiano diretamente.

Mas depois de visitar a cidade esse ano pela primeira vez, conversei com pessoas que passaram pela situação no dia do acontecido, pude visitar o local de construção da nova torre e conheci também o memorial pequeno, que dará lugar a um enorme. Vendo tudo de perto é bem diferente.

Parece que a qualquer a momento em que eu andava pela cidade iria encontrar Oskar Schell, personagem do livro Extremamente Alto x Incrivelmente Perto de Jonathan Safran Foer, que procura insanamente pistas sobre uma chave que ele acha no quarto do pai, este que desapareceu nos ataques às Torres Gêmeas. Aquele garoto, tão incrível que flutua pela cidade tão sensivelmente, vendo tudo com tanta delicadeza, mesmo com a cidade tão fora de si logo em seguida aos ataques

Nova York pareceu pra mim, acolhedora, sensível e pacífica. Senti uma tranquilidade imensa na cidade, muitas crianças nas ruas, pessoas de todas as classes sociais no metrô e uma mistura gigantesca de cores, raças e credos. E não pensem que fiquei somente na parte turística, por 12 dias tive uma rotina intensa das oito e meia da manhã às cinco da tarde, convivendo com novaiorquinos e moradores da cidade, morando na casa de uma brasileira que vive em NY e meu cotidiano foi de trabalho e correria. Então, pude sentir um pouquinho o que é a rotina daquela cidade.

Independente de ideologia política, de quem tem razão ou não, eu saí com a sensação que aquele lugar, apesar de TUDO, não mereceu sofrer o que sofreu. Falo isso pelas pessoas que moram ali, que trabalhavam nos prédios, pela poesia que grita nas ruas da cidade, por tudo que senti o quanto aquela cidade pulsa artisticamente. Talvez isso de ficar filosofando a vida diariamente me faz acreditar que lugar nenhum do mundo merece receber bombas, atentados, ter assassinatos, roubos, estupros, etc, mas em particular NY me fez acreditar que propaga uma energia contrária até a isso que pensamos que os EUA transmitem. Nem o “american way of life” sobrevive à Nova York. É uma cidade que deveria pertencer “somente” ao planeta e não a um país, tamanha liberdade que se sente ao andar pelas ruas.

Os dias que passei na Big Apple me ajudaram a desmistificar muita coisa que estava na minha cabeça e acreditar mais no que se vive do que aquilo que nos é transmitido pela da mídia.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Público Gay

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Por Renata Daibes

De repente ouço: eu não frequento o shopping Frei Caneca porque não gosto do público. Penso, talvez não seja bem o público, talvez seja a música, as lojas, ou a distância que aquele shopping ou cinema ficam de minha casa. Mas o que eu finalmente sou forçada a ouvir é: não gosto do público gay.

O que será público gay? Alguém todo fantasiado, de saia, te aliciando no banheiro? Ou pessoas comuns, que trabalham, pagam suas contas e impostos, que são médicos, engenheiros, garçons, empresários, fotógrafos, advogados, dentre outros? A primeira alternativa não se refere ao público gay, ao meu ver, e sim a algum personagem de programa de humor, onde os gays são sempre personificados como “seres engraçados”, exóticos ou sexuais. Já a segunda se refere aos gays, aos héteros e todos nós, seres humanos, que lutamos para viver nesse mundo que destruímos aos poucos e aos muitos.

Será que tudo isso é o medo do diferente? A chacota, o bullying, aquele colega que vive às custas de maltratar os demais, será que não se esconde dentro de uma capa de medo e timidez de mostrar quem realmente ele é, seja gay ou não? A nossa sociedade criou artimanhas para sustentar o preconceito. Acreditamos que nossos filhos não podem jamais ser gays ou andar com gente “desse tipo”. São más companhias, emanam energia negativa, não são de Deus. Ou então viram bichos de zoológico: venham conhecer meu amigo gay, ele é lindo e incrível e super engraçado!

E ainda existem preconceitos dentro de outros, como fazer comentários do rapaz que trabalha no escritório e que nunca apareceu com namorada. Mas e quando se trata do dono da empresa, que também é gay, mas paga o seu salário, é simpático com você e para todos é um bom chefe?

Não venho por meio deste texto dizer que os gays estão acima do bem e do mal, mas sim dizer que pessoas somos iguais: com sentimentos, defeitos, qualidades, questionamentos. Então, porque que eu posso me casar, ter filhos, ter um emprego, sair de mãos dadas na rua, frequentar um shopping e alguém que goste de pessoas do mesmo sexo não pode?

O sexo é sempre assunto, os amigos e família querem saber com quem estamos ou não transando. Mas um casal hétero, com o casamento fadado ao fracasso, sem sexo há tempos e mantendo aparências, não é visto como anormal para a sociedade? Observamos tanto o comportamento do outro e não olhamos nossa própria vida. Hipocrisia constante.

Quem a gente pensa que é para diminuir alguém ou para ser melhor que o outro por causa de nosso perfil sexual? Também, é melhor ir com calma na luta porque muitas vezes nós, que tanto fugimos do preconceito, nos tornamos preconceituosos às avessas ou chatos de plantão.

Acredito em um debate ainda muito necessário, mas que o final seja uma igualdade que não precise de discussão. Que vejamos beijos gays nas novelas e não nos assustemos e nem necessariamente digamos que lindo!! Que casamento gay seja apenas a união de duas pessoas que se amam e não precisem ainda ficar levantando bandeira para se afirmar. Que possamos fazer uma festa com gays e héteros e não nos preocupemos se haverá piadinhas ou desconfortos. E cada um se preocupe em cuidar da sua vida se preocupando em dar espaço ao outro.

E fazendo um desabafo mais do que pessoal, tenho pessoas que amo demais que são gays e outras tantas héteros, então me poupem de comentários desse tipo ao meu redor. Isso definitivamente não cria diferença entre elas para mim. Grata!