segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Extremamente Sensível, Incrivelmente Lindo




“além disso, existem diversas situações em que é necessário escapar rápido, só que os humanos não possuem suas asas, pelo menos por enquanto, então que tal uma camisa feita de alpiste?”
Do livro Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, de Jonathan Safran Foer

Por Renata Daibes.


Era um dia em agosto de 2006. Nesse ano a FLIP (Festival Literário de Paraty) acontecia no começo de agosto, porque era ano de Copa do Mundo. O Fred queria muito conhecer esse evento e acabamos indo até a cidade histórica para saber o que acontecia por lá.

Confesso que sempre fui mais dos filmes do que dos livros. Por alguns livros fui apaixonada, como Sidarta, de Herman Hesse, mas nenhum me provoca mais sentimentos do que uma boa película, como as de Billy Wilder de preferência. Mas a influência do Fred em relação à literatura foi fundamental para mim e naquele ano tivemos um episódio marcante.

Entramos numa mesa que mudou a minha percepção da literatura para sempre. Nela, estavam o americano Jonathan Safran Foer e a escocesa Ali Smith, autores que não conhecíamos. A plateia ganhou bloquinhos contendo as primeiras páginas do livro de Foer, Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, que foram lidas por ele logo no início do debate. Pronto! A magia já aconteceu e eu fiquei completamente fascinada por sua narrativa. Ali Smith também me encantou e fiquei curiosa para ler suas obras, o que fiz nos meses seguintes.

Quando a mesa acabou eu quis sair correndo e comprar o livro. Avistei uma fila quilométrica para autógrafos e não entendi por que tanta comoção. Tudo bem, o livro parecia ser muito legal, mas era o segundo lançamento de um autor jovem, com 29 anos na época. Por que aquela fascinação e a vontade tão grande de conseguir um autógrafo? Acabei deixando para comprar na volta da viagem.

Pois é, se arrependimento matasse...

Foi isso que pensei quanto estava no meio da leitura de Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, semanas depois da Feira Literária. Deleite, magia, encantamento, emoções que iam das gargalhadas ao choro compulsivo. Nenhum livro nunca tinha me causado. Ainda tenho muitas obras a descobrir, mas a sensação é de que já li o livro da minha vida, o que mais me fez sentir prazer na leitura e tratar a literatura de uma forma totalmente diferente. Já presenteei várias pessoas com ele e sempre penso: “Se eu encontrasse com Foer, iria pedir uma cota para distribuir para família e amigos e continuar a divulgação que já faço. Heheheh!”

E então o livro foi para o cinema. Sim, os filmes que tanto amo, que tanto me fazem sair da vida cotidiana e me levam a acreditar cada vez mais na arte, dessa vez me fizeram sentir o inverso. Antes de assisti-lo, tinha certeza que não chegaria nem aos pés do livro. Medo e vontade de conferir o filme se misturavam dentro de mim. Antes de ir ao cinema neste final de semana, acabei lendo críticas negativas, como esta de Ana Maria Bahiana (jornalista e escritora) http://migre.me/84GI6.  Vi que mudaram personagens e pressenti que o foco não seria o mesmo dado pelo autor. O melhor seria tirar minhas próprias conclusões, com o coração apertado, como se estivesse correndo como o protagonista da história, Oskar Schell, pelas ruas de New York atrás do dono da chave e das respostas da vida.

Após ter visto o filme

Detestei a tradução do título para o cinema: Tão forte, tão perto. Confesso meu nervosismo. Estava tensa como se, em partes, o filme dirigido por Stephen Daldry fosse meu. 

Só que tudo foi muito bem feito. Ótimas interpretações, destacando Thomas Horn (no papel de Oskar), em seu primeiro trabalho como ator, Max Von Sydon (como o inquilino) e Viola Davis (linda, papel de Abby Black). Edição muito boa, diálogos interessantes, respeitando o conteúdo do livro, dentro do possível.

Chorei do início ao fim, vendo as reações dos personagens que só existiam na minha imaginação, e acompanhando a correria de Oskar atrás de um lugar que a chave abrisse. Chorei vendo o desespero da mãe, as atitudes da avó e a companhia do inquilino que se expressava apenas através de seu bloquinho de papel e seu “YES” e “NO” tatuado nas mãos.

Óbvio que senti falta do Sr. Black, de Buckminster (o cãozinho de Oskar), da história da avó, das expressões “cem dólares”, “Googolplex”, “botas pesadas”, esta última citada apenas uma vez no filme. E também da delicadeza e sutileza de Oskar, que no filme é um pouco mais rebelde e frio. Achei também que o foco para o 11/9 foi um pouco maior do que o dado no livro. Faltou o contraponto com Dresden, falando sobre o bombardeio americano por lá.

Mas o saldo é positivo. Emociona, encanta e nos leva a Nova York. Ah, como deu saudade de estar lá, entre os metrôs e pontes, entre lojinhas estranhas e pessoas diferentes e interessantes. Na próxima ida à cidade, farei o circuito “Oskar Schell”, pelos lugares onde ele esteve na esperança de reencontrar a memória do pai que havia morrido.

A sensação que fica é que a direção do filme tentou ao máximo se aproximar do livro. Conseguiram 1%. Interpreto como uma homenagem ao trabalho de Jonathan Safran Foer, uma tentativa de mostrar um pouquinho na tela a magia que é esse livro. Para chegar aos pés, teriam que fazer uns 10 filmes detalhados, coisa impossível para o cinema, tendo em vista a saga Harry Potter, que mesmo com 8 filmes, se aproximou talvez um terço de todos os volumes.

Senti como a arte provoca em seu público fiel uma sensação de pertencimento à obra, como se ela fizesse parte de nós. Enquanto subia os créditos, eu e o casal ao lado, fazíamos um coro de narizes puxando coriza e soluços de choro. Perguntei a eles se haviam lido a história também. Disseram que não, mas que se emocionaram bastante e iriam procurar o livro para ler. Senti quase um orgulho, de novo, como se o filme fosse um pouco meu. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Minha Amazônia pode ser a mesma que a tua.

Por Vanessa Hassegawa.


São Paulo, fevereiro de 2012 – Nunca se falou, discutiu ou se pensou em Amazônia tantas vezes quanto nos últimos anos. Belo Monte está na Globo. Sabemos que não dividiram o Pará. O technobrega está no baile da Vogue e já se sabe que açaí se come com charque e virou hidratante da Natura. 

Na Amazônia, especialmente a que me compete falar, a paraense, é uma verdadeira concentração de mundos. Digo isso, pois sempre que mostro ou conto algo de lá citam por aqui pelo eixo (inclusive os nordestinos) a expressão: “Nossa, nem parece Brasil!”, como se Brasil fosse... Bem, eu não vou me estender sobre o que é o nosso país, eu tenho preguiça de explicar que nós cabocos existimos e também consumimos Apple. 

Folheando no avião, eu vi que a Revista da Gol publicou uma longa matéria sobre o TEDx, explicou sobre essa plataforma incrível que permitiu dar voz  a muita gente. A revista mostrou pessoas que precisam de fato aparecer e melhor, aquelas que têm o que dizer... 

Entre elas, a revista destaca o artista Alexandre Sequeira, num dos vídeos mais vistos e bem falados do TEDx Amazônia (que também já teve sua versão TEDx Ver-o-Peso).  O cara chamou atenção em Belém a partir de 2005 por fazer uma exposição fotográfica ousada por sua simplicidade, sem molduras nem instalações abstratas sobre o município de Nazaré do Mocajuba-PA, uma pequena comunidade no meio da floresta. Sob as técnicas de Fotografia e Sefigrafia ele trouxe a poesia num tamanho tão real quanto toda Amazônia que deve ser propagada, com o Nazaré do Mocajuba, e rodou mundo a fora. Lá no meu país, “Amazônia Paraense”, tem muita gente especial como o Alexandre e é um orgulho que ele seja tão assistido. E ele ainda vem com o "plus" por ser um cara muito bacana.
 
Assistam também aos outros Tedx Amazônia, e depois me contem com o que o Brasil se parece.