terça-feira, 13 de novembro de 2012

Carta para alguém em 2025

Foto de Fred Linardi


Por Fred Linardi

São Paulo, ano de 2012

Não existe muito segredo para adivinhar como estão as coisas no mundo hoje. Afinal, não faz muito tempo que escrevi essa carta e provavelmente enquanto você está lendo, posso estar passando pela calçada da sua casa ou prédio. Abra a janela por um instante e tente ver, entre a poluição que entra junto com a brisa se existe alguém caminhando num ritmo que permita, ao mesmo tempo, andar numa linha que o faça chegar aonde quer, enquanto observa as janelas acesas nos prédios. Se houver alguém assim, flanando pelo caminho, provavelmente sou eu. Viajo nas janelas acesas talvez na falta do pôr do sol, que é tapado por esses paredões de concreto.

Faz tempo que costumo fazer isso, muito antes de andar munido do meu mp3 player, com fones de ouvido ligados por um fio. Esse negócio de mp3 veio com tudo. As músicas que queremos ouvir hoje são baixadas pela internet via programas e sites que deixam as gravadoras de cabelo em pé. É que até pouco tempo atrás, todos os artistas dependiam delas para poder lançar suas músicas que vinham registradas em CDs, que vieram depois das fitas cassetes, que vieram depois do vinil. Pois é, hoje alguns artistas se safam fazendo produção independente e se dão bem com isso. As mídias sociais se fortaleceram nesse contexto de divulgação e esses caras independentes já estão super satisfeitos simplesmente por terem suas músicas escutadas. Mas isso ainda tá muito no começo e ninguém sabe muito bem onde vai dar. E logo nesse meio-tempo, até os livros de papel foram para este paredão de mídias condenadas. É discussão que não acaba mais.

Outra discussão que começou a surgir há cerca de três anos foi sobre o fim do mundo. Ninguém sabe direito também o que pode acontecer. Mas a data já está muito exata. Vai ser no dia 22 de dezembro de 2012. Esse dia praticamente profético vem do calendário maia, que foi encontrado há algumas décadas e todo decifrado. A matemática daquele povo, sim, era perfeita. Você deve saber disso, mas é bom lembrar: só para ser ter uma ideia, a nossa matemática é baseada em numerações decimais, ou seja, em dezenas sequenciais, enquanto a deles era uma matemática baseada em sequências de vinte em vinte. Hoje, esses maias fariam miséria junto ao nosso conhecimento científico. Mas eles tiveram alguma falha muito grande em algum outro aspecto, pois essa civilização que detinha esse conhecimento desapareceu antes dos colonizadores europeus chegarem. Então, ninguém sabe o motivo certo para o calendário perfeito deles acabar nesta data. Talvez se você tivesse lendo uma carta deles agora, teria mais sorte do que estar lendo essas informações que não devem ser tanto novidade. Principalmente porque, se você a estiver lendo neste mesmo planeta, o mundo não acabou mesmo.

Mas tem uma coisa que você vai cair no chão de saber. O sistema operacional de todos os lugares que vamos e de tudo o que usamos funcionam perfeitamente. É verdade que todo mundo reclama, que os sistemas caem de uma hora para a outra, deixando as pessoas loucas da vida, formando filas enormes e situações de desespero instantâneo. A gente tem ficado cada vez mais com pressa e, consequentemente, inventamos mais aparatos para fazermos a coisas com mais velocidade. Posso estar errado, mas isso daqui a alguns anos não vai mais ser tão funcional. Não é possível que o mesmo espaço de mundo, cheio de ondas de satélites, rádios e tudo mais consiga fazê-los funcionar como hoje. A gente se sente muito seguro quanto a isso agora, mas basta dar um pau no computador que a gente já começa a ter chiliques, sabe? Imagino quando um sistema todo cair. Na verdade, a gente teve quase um negócio desses no ano 2000, falaram que seria o “bug do milênio”. Ainda bem que não aconteceu. Mas outro dia eu vi que em algum dia próximo parece que o sol vai sofrer umas explosões mais fortes na sua superfície e que essa intensidade emitirá para cá uns raios super poderosos que serão capazes de queimar tudo o que estiver na tomada. Isso sim tá mais com cara de bug. Até nossas tostadeiras queimarão!

Sei que pensar em tostadeira é pequeno perto das outras coisas. Mas quando penso na tostadeira, me vem uma coisa em que o tempo não conseguiu ultrapassar. Lembro que na casa dos meus avos elas já existiam, desde quando eu era criança. Tenho um avô que morreu antes dos computadores chegarem às nossas casas. Meu outro avô certamente morreu sem entender direito qual é que era esse negócio de internet. Uma das minhas avós está bem viva e sabe usar uma tostadeira. Essa mesma avó me vê conversando com alguém via webcam e diz “como pode?”. A minha outra avó que se foi este ano não perdia uma missa pela televisão, que ainda existe desatrelada às outras mídias. É assim que a maioria das pessoas queridas se encontra hoje em dia – via satélite.

Acho que conexão é uma das palavras que define muito esses tempos em que vivemos hoje. Todo mundo pode ver tudo e também pode ser visto. Graças aos meios virtuais mesmo, pois tem muitos amigos que não vejo há anos e já desisti de combinar de me encontrar com eles. Cada um segue seu rumo, compromissos e horários. Mas a conexão não para por aí. As pessoas estão buscando outras formas de se ligar. Tem autoconhecimento e busca pelo divino em tudo quanto lugar. Acho isso legal, sabe? De repente é aquela Era de Aquários anunciada e cantada no final do século passado. Acho que isso pode explicar várias coisas que você está vivendo hoje, ou começando a viver.

Ao mesmo tempo, tem muita gente que questiona a existência de Deus. Enquanto isso, os pólos estão derretendo, o lixo está poluindo e o fogo destruindo. Peço desculpas pela ausência de espírito dos nossos líderes atuais, que inclusive fazem guerra usando Deus como justificativa. Foram escolhidos por nós. Você deve ter ouvido falar sobre as promessas do primeiro presidente negro dos Estados Unidos e do primeiro presidente brasileiro vindo do povo E depois, da primeira presidente mulher brasileira. Mas nem eles puderam fazer muita diferença. O buraco é mais embaixo. Foram erros mais anteriores a eles. De qualquer maneira, eles tiveram medo de mudar a música tocada por aqueles que hoje já habitam os túmulos e não se afligem com os problemas ambientais e climáticos. Se existe Deus ou não, quem acredita nele entende que o mundo foi feito a partir de suas mãos. Hoje, é o ser humaninho que recria o mundo. Estamos fazendo uma caricatura do que já foi nosso planeta. Começamos a cavar nossa cova sem nos darmos conta disso. Hoje, sabemos que essa cova pode ser grande o suficiente para caber também nossos filhos e nossos netos, inclusive você que está lendo isso agora.

Enquanto isso, as pessoas correm lá fora com essa pressa pelo instante que virá a seguir. Hoje as pessoas não vivem nesta hora e neste dia. Estão vivendo o futuro, achando que estão atrasadas para tudo. Vão deixando marcas pelo caminho, sem se dar conta. Num minuto de parada, resolvi escrever essa carta que realmente se destina ao futuro. Não sei se pode ser útil. Mas isso é importante para mim também, já que hoje em dia nos preocupamos o tempo todo com isso: no que pode ser útil. As pessoas sentem culpa por fazer algo que simplesmente gostem, mesmo que seja só para si mesmo e que isso não lhes trará retorno material. Mesmo escrevendo essa carta, sendo ela útil ou não, tenho que me esforçar para não sentir que, na verdade, ela não foi a uma perda de tempo. Mas que ela valha como sua própria memória de uma época em que não viveu, ou não se lembra de ter vivido. Foi a partir desse passado recente que você veio.

Viva sua vida feliz, siga o seu sonho e não o sonho daquele que assina sua carteira de trabalho. Burle as regras sociais, que devem estar mais moralistas no seu tempo. Seja um ser humano e tente viver para deixar um sorriso nessa caricatura que desenhamos no mundo.


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Você pode me dizer por que sete anos?

Daqui:  http://weheartit.com

Por Renata Daibes

Passam rápido, duram muito. O que significam na vida de alguém de 31 anos?

Há sete anos eu não conhecia um terço das pessoas que conheço hoje, não havia descoberto a dança com o olhar artístico/educacional, a vida de solteira estava no auge, só tinha uma sobrinha, nunca havia dado uma aula, nem sabia quem era Foucault ou Jonathan Safran Foer, dirigir era um sonho distante.
Parece que o tempo não passou, de tão rápido que foi. Mas os acontecimentos foram tamanhos que não consigo mensurar.

E por que o cálculo de sete anos, e não oito, nove ou até mesmo dez?

Dizem que sete é um número significativo, simbólico, duradouro. Tá na Bíblia, nos dias da semana, nos chakras de nosso corpo, nas maravilhas antigas e modernas, nas virtudes humanas, nos pecados capitais e etc eternos.

O ano de 2012 (sim, o do fim do mundo) tem sido um divisor de águas tão grande, mas tão grande que tá difícil de deixá-lo de lado ou tratá-lo como apenas mais um. Teve desde casamento até seleção em festival (primeira viagem a trabalho do Las Caboclas!), viagem à Europa, organização de evento, começo de nova vida profissional, encontros.

E 2005 foi tão importante quanto. Difícil, mas importante. Definições e indefinições que permeiam minha cabeça até hoje. Sensações inesquecíveis multiplicadas por sete. Começo de namoro, término de estudos que fecharam um ciclo, mudança de apartamento, planejamento para morar sozinha e o meses de janeiro/fevereiro (que mereciam um texto só para eles).

Assim 2005 e 2012 se relacionam como dois parceiros combinados. Jogam de lá pra cá os acontecimentos, como numa partida de tênis. Fico ali tentando aparar as bolas, equilibrando os sets, deixando no mínimo digerível.

O misto de medo e enfrentamento continua, até o fim do ano. E acho que ele não acaba. Virão mais sete, outros setes e quem sabe como será o futuro, pode me falar? A falta de controle me dá arrepios.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Facebook, destino e felicidade


Por Renata Daibes

No meio das minhas “filosofadas” por aí, me caiu nas mãos o livro de Zygmunt Bauman, Amor Líquido. Qual foi a minha surpresa quando me deparei com suas ideias, questionamentos e visões de mundo muito a ver com os últimos questionamentos que tenho feito em minha vida, pessoal e profissional.

Além de levá-lo aos projetos do Las Caboclas, em inúmeras citações e passagens, o levo também ao dia a dia. Suas interpretações me inspiram e me mostram um mudo mais compreensível do que antes.


Neste vídeo abaixo, Bauman com 86 anos, é tão atual em suas reflexões e nada banal, mesmo falando de Facebook, destino e felicidade. Parece impossível, mas ele se deixa ser interessante e claro. Sem floreados e palavras difíceis, ele aprofunda questões de nossas vidas de forma clara e palpável.
Dentre outros, suas obras guiam o Las Caboclas em nossas pesquisas e projetos e criam trajetos questionáveis sempre. Idas e vindas, urbanos, estranhos.

“...para cada ser humano existe um mundo perfeito feito especialmente para ele ou para ela.”


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Reformulando

Dentro de tantas pesquisas, ideias de reformulação do blog e decisão de aumentar o enfoque no coletivo de artistas, a equipe Las Caboclas ruma a novos ares, novos mares. Viagens, parceiros, layout, tudo novo, começamos uma nova etapa nesse segundo semestre que ainda há de aparecer em breve por aqui.

Começaremos com duas inspirações que mexeram conosco nesse meio tempo. Como a videodança nos atrai e virou nosso objeto de trabalho, ela será nosso start.

Abaixo vídeos que gostamos e ficaram repetindo em nossos computadores e mentes desde que os vimos pela primeira vez.

http://www.sprawl2.com/

O vídeo acima é uma produção compartilhada da banda Arcade Fire com a coreógrafa canadense Dana Gingras. A direção é de Vincent Morisset, com fotografia de Cristophe Collette. A obra é baseada no livro Mountains Beyond Mountains.




Este vídeo é obra de Alma Har'el, artista israelense, que assim como outros artistas, recebeu o mesmo pequeno orçamento para realizar o que lhes viesse à cabeça depois de ouvirem músicas do álbum Valtari, da banda Sigur Rós, que foi quem propôs a ideia e a ofereceu a cada artista.

Deleitem-se.

Equipe LC.

Referências de pesquisa:
http://animalsofdistinction.tumblr.com/Dana_Gingras
http://www.christophecollette.com/
http://www.vincentmorisset.com/
http://sigur-ros.co.uk/valtari/videos/
http://www.almaharel.com/

segunda-feira, 2 de julho de 2012

“Não se vive de arte, mas também não se vive sem” (Marita Prado).


Por Vanessa Hassegawa.


A atriz paraense Marita Prado conta para o Las Caboclas a sua experiência no espetáculo Barafonda, da Cia São Jorge de Variedades, em São Paulo.


Chegamos eu e meu amigo Fredyson com três minutos de atraso à Praça Marechal Deodoro. Foi preciso correr pra alcançar a peça que já margeava as redondezas do Teatro da Cia São Jorge de Variedades. Lá havia em torno de 200 pessoas aglomeradas que assistiam aficionadas ao que ora era encenação, ora se misturava aos próprios personagens da rua. 


Bêbados, senhoras, travestis, craqueiros. O começo de Barafonda é uma profusão de gente das quais não sabemos quem realmente é do elenco. Uma mágica sem apetrechos bufões e cenografia que conduzem uma dramaturgia legítima e um teatro de grupo ,ou melhor, uma ode ao bom teatro brasileiro. 


Meus elogios são meio suspeitos, porque além de já ter feito parte da "família"  de Teatro na região da Luz como RP do Pessoal do Faroeste, o elenco de Barafonda tem a atriz paraense, Marita Prado, que nos contou um pouquinho de sua trajetória e a experiência de estar em uma das principais trupes do país. Aos 24 anos, Marita resplandece com sábias palavras e pontua muito bem que sua profissão é uma vocação e um “evoé” que alia muito bem uma interpretação pra lá de pai d´égua!


LC- É impossível não se impressionar com a montagem de Barafonda. Como foi participar desta montagem na São Jorge de Variedades? É a primeira vez nesta companhia? 
MP- Posso falar com certeza que participar de Barafonda foi um desafio, e depois do espetáculo “pronto”, vencido e vivenciado os empecilhos são um grande amadurecimento profissional.
Foi um ano e meio de processo e a montagem permitiu que criássemos juntos de atores mais experientes. É uma experiência incrível de aprendizado, descoberta de possibilidades em relação ao conteúdo, estrutura da peça e até aos meus próprios limites quanto atriz.


LC- Fale um pouco sobre o enredo da montagem: a dramaturgia coletiva  e o casamento da história do bairro e os textos de As Bacantes e Prometeu Acorrentado.
MP- Trata-se das relações humanas na sua forma mais simples e as historias mitológicas, e  Barafonda é o cenário que funde tudo isso.
Barafonda é uma grande festa pelo bairro da Barra Funda. Uma interação com a cidade viva, pulsante. Falamos sobre o passado, o presente e o futuro sobre a perspectiva da história do bairro, das histórias de pessoas do bairro e daqueles que lá moraram ou ainda moram.
Além dos textos de Prometeu Acorrentado, Dionísio que de certa forma abordam aspectos da liberdade, da vontade e do prazer mundano e por vias consequentes, o aprisionamento moral individual e cívico. A dramaturgia coletiva é definitivamente um exercício de escuta.
O casamento dos textos gregos e da história do bairros se deu a priori pela ideia de Coro, uma pesquisa que já existia na Cia mas que foi intensificada e somada a sua base, que é o coro grego. A ideia surge, e a partir daí o desafio de estruturar a dramaturgia de forma harmônica.


LC- Como você se prepara para uma jornada de 4 horas de montagem onde há canto, dança e um longo deslocamento pelas ruas do bairro?
MP -Tivemos um ano e meio de preparo com apoio de importantes profissionais, entre eles: preparação vocal, musical e corporal. Tivemos aulas de “cheganças”, instrumentos, trabalho de campo de visão, e outros.
Para o espetáculo em si, eu acho que o preparo para essa jornada é a dedicação. Chegar pelo menos 2 horas antes para começar a maquiar, entrar na energia coletiva, o vai e vem do elenco se preparando, é um grande estimulo! Além, é claro, de um bom alongamento (que quase sempre é Yoga), aquecimento de voz e uma água no bolso durante o percurso.


LC- O que representou essa vivência artística para você?
MP- É uma alegria olhar a cidade de uma outra maneira, ter respeito pelo espaço o qual vivemos. E sobretudo, diante dessa enorme cidade que pulsa, ferve...Fazer um espetáculo acontecer é, no mínimo, mágico. Viver o Barafonda é acreditar que os desafios são obstáculos a serem passados para trás. É acreditar que a arte move os corações mais escondidos. Não se vive de arte, mas também não se vive sem.


LC- Fale um pouco sobre a sua formação artística.
MP- Meu contato com a arte foi através da Universidade Federal do Pará. Lá fiz o curso de cenografia, que abriu meu olhar e me instigou a criar espaços, luzes, técnicas, observar os atores em cena, os técnicos que trabalhavam em prol de um espetáculo. O curso é ótimo, só que era novo e não tínhamos uma estrutura muito boa, trabalhávamos com que tinha e com o que não tinha. Ali comecei a amar os palcos. Já apaixonada pelo teatro e ávida por mais informações e pelo contato com palco, vim para São Paulo e comecei a estudar a cena, os personagens, a teoria. Chegando aqui, eu assistia a quatro peças por semana!
Entrei na  Escola Celia Helena, onde tive os primeiros contatos com importantes pensadores de arte. Pude me expressar das mais variadas formas, com e sem clichês. Tive a oportunidade de trabalhar no grupo Folias D’Arte, no Teatro São Pedro, com a Ópera Romeo et Juliet, tive contato com o grupo cia Elevador Panorâmico e sua pesquisa de Campo de Visão, que me encantou. Conheci atores brilhantes e não só isso, artistas que têm a arte como uma forma de pensar, agir, um trabalho íntegro de pesquisa e comprometido com a sua verdade e sobretudo com o oficio que escolheu. A faculdade foi importante sim, porém as experiências profissionais ainda mais. Elas te capacitam com segurança, é um crescimento instantâneo. Relacionar-se com os outros, saber escutar ideias, discutir,  trabalhar com o tempo, com pouca grana. Isso não se aprende na faculdade e a vida profissional exige isso.


LC- Quais foram seus principais mestres tanto em Belém quanto em São Paulo? Quem te inspira?
MP- Em Belém, duas pessoas foram as responsáveis por me desafiar e querer mais de mim na arte. A Professora Iara e a Wlad Lima - mestras que fazem com amor e responsabilidade. Isso é bom! Costumo dizer que a gente aprendia com o amor que elas explicavam nas aulas. Aprender com amor e dedicação estimula, instiga. Eu pensava:  “Eu quero  viver esse amor também”.
Em São Paulo, sem dúvida, a atriz Patricia Guifford, mulher de força, garra, extremamente dedicada e competente. Sou daquelas que não vê defeito. Artista, mulher perfeita! O teatro precisa de pessoas com tamanha perseverança e garra. 


LC- A peça saiu de cartaz, mas você vai continuar com a pesquisa da Cia São Jorge? Quais os seus planos daqui por diante? 
MP- A São Jorge é uma cia especial. São sempre instigantes as pesquisas investigadas de lá. O projeto Barafonda teve uma demanda enorme. Então, por enquanto, penso em colher e gozar desse fruto! Tenho um projeto para Belém que envolve jovens paraenses e estou desenvolvendo junto com dois empresários que acreditam no desenvolvimento do estado através dos olhares de jovens músicos, jornalistas, empresários, artistas e chefs de cozinha.
Além de um processo de pesquisa que fala da mulher; músicas, depoimentos pessoais, textos autorais, vivências que partem do nosso íntimo e que acabam por escrever uma história, seja ela feliz ou triste.



Marita, em cena no espetáculo Barafonda:




O Espetáculo Barafonda esteve em cartaz de 4 de maio a 23 de junho de 2012, nas mediações da sede da companhia, que fica na Rua Lopes de Oliveira 342 - Barra Funda. Mais informações sobre a peça e a pesquisa da Cia em: ciasaojorge.com

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A circulação


Nesse link com legenda em português: http://www.ted.com/talks/lang/en/wade_davis_on_endangered_cultures.html


Por Renata Daibes


O que sempre pensei era: não queria ser alguém que não circula.


Não queria ser alguém de um mundo só, de apenas uma escolha, pertencente a apenas um lugar. Queria ter experiências, ver e muitas vezes participar de universos diferentes. Saber de assuntos variados. Lógico que dentro disso tudo temos nossas preferências, um estilo musical, uma cidade, ou duas, um diretor de cinema, um bairro, um círculo de amigos, um tipo de dança, um marido pra vida toda.


Mas que as escolhas não signifiquem prisão. Que eu não me aprisione dentro do emprego que escolhi, dentro do bairro que moro. Na adolescência sempre encanava em alguma coisa, algum assunto ou banda e ficava entregue àquela paixão por tempos e tempos. Faz parte da adolescência essa identificação para a construção da personalidade. Hoje em dia o que me faz crescer é a possibilidade da descoberta.


Por que não posso me dar ao luxo de conhecer outra classe social, de pisar na areia da cidade onde não moro, de modificar meu cotidiano com escolhas diferentes?
Me irrita o discurso de discriminar a ida da periferia ao centro. Lembro bem da polêmica sobre o metrô em Higienópolis. Haveria trânsito de pessoas diferentes àquele ambiente, talvez mendigos, camelôs, que por preconceito de alguns poucos não podem pisar naquelas calçadas para não sujá-las. Acabou que a Cracolândia foi até lá, pela própria mão do governo, que não soube o que fazer com aquelas pessoas, afinal, se pensa a maior parte do tempo em uma elite que não para de consumir.


Trânsito social me anima, me empolga. Das vezes que trabalhei na periferia, eu, moradora de bairro classe média do centro da cidade, me encantava. As crianças brincando na rua, transitando pra lá e pra cá, diferenças culturais, outras músicas, outros nomes, outro olhar sobre as coisas e pessoas. Nem tudo são flores nem de um lado nem de outro, mas o gostoso é experienciar.


Quando o poder aquisitivo me permitir, farei mais viagens do que o normal, e não, não pretendo ir apenas para os EUA ou para o Velho Mundo, quero conhecer países da África, Ásia e o que mais tiver oportunidade.


Não sou uma pessoa totalmente adaptável ao ambiente, não sou exatamente isso que sonho, preciso de um certo conforto e não me considero aventureira, mas sim curiosa. Não quero viajar para apenas ver o mundo tal qual ele se parece todos os dias, capitalista e ocidental. Quero descobrir coisas que não conheço.


Quem sabe um dia eu não chegue à pontinha do dedo do antropólogo Wade Davis. E descubra novas culturas?

terça-feira, 3 de abril de 2012

Meio Termo de Ouro*



Por Vanessa Hassegawa

Tenho 27 anos e às vezes me sinto meio velha. Não me refiro às rugas, peso, falta de dinheiro(s) e por não ter a casa própria, é que eu ainda não cumpri a minha lista de metas que elaborei aos treze anos! Isso me deixa bem agoniada. 


Mas logo em seguida, eu me lembro que aos treze anos eu tinha beijado um (01) menino, não tinha banda larga,  pesava  41 quilos, não existiam tantos afetos e desafetos. Eu estava na 7º  série, o mundo ainda não tinha inventado tantas igrejas evangélicas. Os políticos já eram corruptos, mas ainda não tinha Youtube, a moda não era tão democrática e a TV era de tubo.


Como eu pude pensar que minha vida seria exatamente como planejei se ocorreram tantas intervenções malucas nesses últimos anos?
Ter pré-30 não é fatalista como Janis Joplin ou tão workaholic  quanto as meninas executivas da Av. Carlos Berrini. Porém, pode ser tão legítimo quanto qualquer outra menina que cumpre as metas fantásticas e muda de ideia enquanto toma um drink numa balada.
Estou longe de comprar minha casa própria, talvez não case sob os mesmos moldes que a mamãe, talvez tenha um filho perto dos 40 ou talvez não tenha, enfim... Eu tenho me convencido de que a cada 365 dias que passam eu consigo entender com clareza a lista que fiz aos treze e a nova lista que entra (com mais tópicos). E é claro, ela é organizada por cores, pois cada assunto na minha vida tem uma cor não melhor nem pior, são inclassificáveis e igualmente importantes: desde a compra de uma escumadeira à viagem para Europa. 
Aos 27 anos que contabiliza 24 horas todos os dias, lamento os livros que não li, os filmes que não vi, os aniversários da mamãe que não estive e as viagens que não fiz. Mas ainda terei 37, 47, 57, 97... E em todas essas décadas eu poderei realizar cada parte, cada pedaço que não via na tela de tubo da minha casa, mas poderei enxergar com olhos bem mais experientes e carregados dos livros lidos e não lidos, dos filmes não vistos e vistos e dos aniversários da mamãe vividos. 


Nossa! Quem me lê deve me achar uma LOUCA, mas como não estou a fim de me comparar com outras pessoas, eu precisava falar sobre o meu tempo bem distante do de Chronos e bem perto do mundo real, onde se via o mundo pela TV de tubo catorze anos atrás e hoje posso ver o universo e a cidade dos ETs de Marte pelo celular.  


Portanto eu decidi que meu pré-30 terá coleções de tópicos da lista não cumpridos, mudados. Só não pretendo trocar de namorado, o resto está valendo até demais!  E deixa assim, o importante é que o IPTU está em dia. 


* Pensamento criado por Aristóteles natural da Macedônia (384-322 a.C).  Um gênio – meio machista – que usou o termo para explicar que: “Não devemos ser nem covardes, nem audaciosos, mas corajosos. Também não deveremos ser nem avarentos, nem extravagantes, mas generosos”.

O clique é de Gabi Butcher  e log  o mais, Bela do Lago vai trazer sua aquerela especilmente para esta crônica...

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Extremamente Sensível, Incrivelmente Lindo




“além disso, existem diversas situações em que é necessário escapar rápido, só que os humanos não possuem suas asas, pelo menos por enquanto, então que tal uma camisa feita de alpiste?”
Do livro Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, de Jonathan Safran Foer

Por Renata Daibes.


Era um dia em agosto de 2006. Nesse ano a FLIP (Festival Literário de Paraty) acontecia no começo de agosto, porque era ano de Copa do Mundo. O Fred queria muito conhecer esse evento e acabamos indo até a cidade histórica para saber o que acontecia por lá.

Confesso que sempre fui mais dos filmes do que dos livros. Por alguns livros fui apaixonada, como Sidarta, de Herman Hesse, mas nenhum me provoca mais sentimentos do que uma boa película, como as de Billy Wilder de preferência. Mas a influência do Fred em relação à literatura foi fundamental para mim e naquele ano tivemos um episódio marcante.

Entramos numa mesa que mudou a minha percepção da literatura para sempre. Nela, estavam o americano Jonathan Safran Foer e a escocesa Ali Smith, autores que não conhecíamos. A plateia ganhou bloquinhos contendo as primeiras páginas do livro de Foer, Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, que foram lidas por ele logo no início do debate. Pronto! A magia já aconteceu e eu fiquei completamente fascinada por sua narrativa. Ali Smith também me encantou e fiquei curiosa para ler suas obras, o que fiz nos meses seguintes.

Quando a mesa acabou eu quis sair correndo e comprar o livro. Avistei uma fila quilométrica para autógrafos e não entendi por que tanta comoção. Tudo bem, o livro parecia ser muito legal, mas era o segundo lançamento de um autor jovem, com 29 anos na época. Por que aquela fascinação e a vontade tão grande de conseguir um autógrafo? Acabei deixando para comprar na volta da viagem.

Pois é, se arrependimento matasse...

Foi isso que pensei quanto estava no meio da leitura de Extremamente Alto x Incrivelmente Perto, semanas depois da Feira Literária. Deleite, magia, encantamento, emoções que iam das gargalhadas ao choro compulsivo. Nenhum livro nunca tinha me causado. Ainda tenho muitas obras a descobrir, mas a sensação é de que já li o livro da minha vida, o que mais me fez sentir prazer na leitura e tratar a literatura de uma forma totalmente diferente. Já presenteei várias pessoas com ele e sempre penso: “Se eu encontrasse com Foer, iria pedir uma cota para distribuir para família e amigos e continuar a divulgação que já faço. Heheheh!”

E então o livro foi para o cinema. Sim, os filmes que tanto amo, que tanto me fazem sair da vida cotidiana e me levam a acreditar cada vez mais na arte, dessa vez me fizeram sentir o inverso. Antes de assisti-lo, tinha certeza que não chegaria nem aos pés do livro. Medo e vontade de conferir o filme se misturavam dentro de mim. Antes de ir ao cinema neste final de semana, acabei lendo críticas negativas, como esta de Ana Maria Bahiana (jornalista e escritora) http://migre.me/84GI6.  Vi que mudaram personagens e pressenti que o foco não seria o mesmo dado pelo autor. O melhor seria tirar minhas próprias conclusões, com o coração apertado, como se estivesse correndo como o protagonista da história, Oskar Schell, pelas ruas de New York atrás do dono da chave e das respostas da vida.

Após ter visto o filme

Detestei a tradução do título para o cinema: Tão forte, tão perto. Confesso meu nervosismo. Estava tensa como se, em partes, o filme dirigido por Stephen Daldry fosse meu. 

Só que tudo foi muito bem feito. Ótimas interpretações, destacando Thomas Horn (no papel de Oskar), em seu primeiro trabalho como ator, Max Von Sydon (como o inquilino) e Viola Davis (linda, papel de Abby Black). Edição muito boa, diálogos interessantes, respeitando o conteúdo do livro, dentro do possível.

Chorei do início ao fim, vendo as reações dos personagens que só existiam na minha imaginação, e acompanhando a correria de Oskar atrás de um lugar que a chave abrisse. Chorei vendo o desespero da mãe, as atitudes da avó e a companhia do inquilino que se expressava apenas através de seu bloquinho de papel e seu “YES” e “NO” tatuado nas mãos.

Óbvio que senti falta do Sr. Black, de Buckminster (o cãozinho de Oskar), da história da avó, das expressões “cem dólares”, “Googolplex”, “botas pesadas”, esta última citada apenas uma vez no filme. E também da delicadeza e sutileza de Oskar, que no filme é um pouco mais rebelde e frio. Achei também que o foco para o 11/9 foi um pouco maior do que o dado no livro. Faltou o contraponto com Dresden, falando sobre o bombardeio americano por lá.

Mas o saldo é positivo. Emociona, encanta e nos leva a Nova York. Ah, como deu saudade de estar lá, entre os metrôs e pontes, entre lojinhas estranhas e pessoas diferentes e interessantes. Na próxima ida à cidade, farei o circuito “Oskar Schell”, pelos lugares onde ele esteve na esperança de reencontrar a memória do pai que havia morrido.

A sensação que fica é que a direção do filme tentou ao máximo se aproximar do livro. Conseguiram 1%. Interpreto como uma homenagem ao trabalho de Jonathan Safran Foer, uma tentativa de mostrar um pouquinho na tela a magia que é esse livro. Para chegar aos pés, teriam que fazer uns 10 filmes detalhados, coisa impossível para o cinema, tendo em vista a saga Harry Potter, que mesmo com 8 filmes, se aproximou talvez um terço de todos os volumes.

Senti como a arte provoca em seu público fiel uma sensação de pertencimento à obra, como se ela fizesse parte de nós. Enquanto subia os créditos, eu e o casal ao lado, fazíamos um coro de narizes puxando coriza e soluços de choro. Perguntei a eles se haviam lido a história também. Disseram que não, mas que se emocionaram bastante e iriam procurar o livro para ler. Senti quase um orgulho, de novo, como se o filme fosse um pouco meu. 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Minha Amazônia pode ser a mesma que a tua.

Por Vanessa Hassegawa.


São Paulo, fevereiro de 2012 – Nunca se falou, discutiu ou se pensou em Amazônia tantas vezes quanto nos últimos anos. Belo Monte está na Globo. Sabemos que não dividiram o Pará. O technobrega está no baile da Vogue e já se sabe que açaí se come com charque e virou hidratante da Natura. 

Na Amazônia, especialmente a que me compete falar, a paraense, é uma verdadeira concentração de mundos. Digo isso, pois sempre que mostro ou conto algo de lá citam por aqui pelo eixo (inclusive os nordestinos) a expressão: “Nossa, nem parece Brasil!”, como se Brasil fosse... Bem, eu não vou me estender sobre o que é o nosso país, eu tenho preguiça de explicar que nós cabocos existimos e também consumimos Apple. 

Folheando no avião, eu vi que a Revista da Gol publicou uma longa matéria sobre o TEDx, explicou sobre essa plataforma incrível que permitiu dar voz  a muita gente. A revista mostrou pessoas que precisam de fato aparecer e melhor, aquelas que têm o que dizer... 

Entre elas, a revista destaca o artista Alexandre Sequeira, num dos vídeos mais vistos e bem falados do TEDx Amazônia (que também já teve sua versão TEDx Ver-o-Peso).  O cara chamou atenção em Belém a partir de 2005 por fazer uma exposição fotográfica ousada por sua simplicidade, sem molduras nem instalações abstratas sobre o município de Nazaré do Mocajuba-PA, uma pequena comunidade no meio da floresta. Sob as técnicas de Fotografia e Sefigrafia ele trouxe a poesia num tamanho tão real quanto toda Amazônia que deve ser propagada, com o Nazaré do Mocajuba, e rodou mundo a fora. Lá no meu país, “Amazônia Paraense”, tem muita gente especial como o Alexandre e é um orgulho que ele seja tão assistido. E ele ainda vem com o "plus" por ser um cara muito bacana.
 
Assistam também aos outros Tedx Amazônia, e depois me contem com o que o Brasil se parece.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Devir

Daqui: http://www.mexican-fireworks.com/post/15042912104


Por Allan Fonseca

Mais que pensar naquilo tudo que vamos fazer em 2012, talvez seja a hora e o caso de pensar no que fizemos em 2011.

Lembro, por exemplo, que a primeira promessa que jurei, quando ainda lucilavam as bolhas de champagne em minha taça, foi a de enfrentar os medos. Quais? Todos eles. O que me incomodasse, o que me amarrasse os passos, o que me fizesse sombra ao sorriso inadvertido. Nem que, para tanto, tivesse de abrir mão da minha tranquilidade. Nem que, ao final do embate, a única recompensa a restar fosse a consoladora sensação de que não fiquei parado, esperando a vida me levar.

Lembro que prometi também não mais protelar. O quê? Os mínimos acontecimentos. De uma consulta no médico a um livro interessante. De um telefonema a um par de calças novas. De uma bicicleta no quintal a um parente no interior. De uma viagem sonhada à arrumação nos papéis da gaveta. De um abraço sem causa aos gravetos da paisagem de dentro.

Lembro ainda que me comprometi a algo muito simples, ou que parecia muito simples no frenesi dos fogos de artifício: dar valor. A quê? A quem? Ao que tem valor intrínseco: a barriga laranja dos sabiás que vem cantar no meu quintal; a virada olímpica na piscina; a chuva que limpa o ar e realça o brilho do sol; o carrinho de madeira que meu avô trouxe de São Pedro; o lento desfile do rio e seu encontro com o oceano; o prato na mesa, o teto na casa, a colcha, a fronha, o lençol; o pai, a mãe, o irmão; o sermão da montanha; os lírios do campo de Deus.

Lembro que afiancei procurar o lado bom do que sobreviesse. Onde? Nos recônditos da fé, se recurso mais concreto não me houvesse, mas sempre, impreterivelmente. Interpretar cada fato como ensejo para crescer, para me aprimorar. Não me esconder, não esmorecer, não fraquejar. Não ulcerar ninguém nos espinhos de meus naufrágios. Nem que o pior me acontecesse. Nem que um amigo me traísse no afã de sôfrega ambição. Nem que os favos de doce recordação estilassem gotas de fel. Nem que eu fosse tragado pelo gargalo da solidão. Nem que se esfarelasse o oásis dos tártaros. Nem que passasse a viger o silêncio babélico da fonte seca.

Lembro como se fora ontem, mês passado, mil novecentos e oitenta e seis, no tempo dos magos reis... Lembro e vislumbro que amanhã prometerei mais uma vez o que não posso cumprir. E, no devir de mais um ano, ser humano, sem resposta, hei de inquirir: o que se fez?

30/12/2011


Allan é nosso primeiro colaborador no blog. Um amigo muito querido, escritor e  tem uma sensibilidade e facilidade únicas de se expressar através das palavras. Em 2011 lançou o livro A paisagem vem de dentro, da editora Tecci.

Seu blog: allanbff.blogspot.com


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Cinema em Casa

Por Renata Daibes

Herdei da minha família um amor enorme pelo cinema, principalmente pelos grandes clássicos.

Desde criança assistia a muitos filmes, alguns nem tanto infantis, alguns tinham cenas cortadas, como Hair, por exemplo, que eu via apenas os momentos mais românticos, dançados e a famosa cena de Berger subindo na mesa de jantar.

Fui crecescendo e meu amor só aumentando, e me vi viciada no clássicos americanos. Billy Wilder, Hitchcock, Robert Wise, Geroge Stevens, dentre outros. Kurosawa estava sempre por perto, Bergman também, mas confesso que só fui me interessar mesmo por eles já adulta. Gostava mais das histórias lineares e dos astros hollywoodianos.

Marilyn, Montgomery, Liz Taylor, Jack Lemmon, Audrey, Gene Kelly, Fred Astaire eram de casa. Estavam quase todos os dias no vídeo cassete, me emocionando.

De uns tempos pra cá, em Belém, minha família promove uma noite de cinema, planejada e organizada por meu tio Tadeu. Ele define um tema e cada um leva uma cena baseada no tema já previamente divulgado.
Dessa última vez falamos sobre comida. 

Abaixo seguem algumas das cenas escolhidas pelos participantes.





O único porém é que minha família tem descendência árabe. Não, isso não é um problema, mas gera alguns contratempos. Por exemplo, as pessoas não ouvirem a cena em questão, os comentários rolam no meio do filme e posso afirmar que não são cochichos. A comunicação na sala é bem do jeito árabe/paraense de ser: quase gritando.

Rolam aplausos, risadas, comilança no meio e às vezes até vaia quando alguém não concorda com o filme. Ninguém fica calado. Mas o mais gostoso é o interesse de todos, desde minhas sobrinhas de 5 e 9 anos, até minha avó, todos ali empolgados e cobrando que esse evento faça parte do calendário anual de encontros da família.

O cinema é uma das alegrias de minha vida e será eternamente assim. Não sei viver sem. Afinal, já tá no sangue.


Obs. A minha cena foi a de Em Busca do Ouro. Não deu pra colocar todas as cenas, porque foram muitas, mas ainda tiveram A festa de Babete, Ratatouille, Harry Potter, A Noviça Rebelde, Hook - A Volta do Capitão Gancho, Jesus de Nazaré, entre outros. Fora A Festa de Babete, nenhum dos filmes fala exatamente sobre alimentação. O legal foi mostrar que cada filme dentro de sua história acaba tendo uma cena com comida e cada diretor tem uma forma completamente distinta de apresentar. Romântica, informal, festejada ou na miséria cenas de refeição são presentes nas obras cinematográficas.